sábado, 6 de fevereiro de 2010

Meninos-prodígio devem ficar «fora do vidro de resguardo»

"Pediatras debatem potencial dos sobredotados na Ordem dos Médicos.

Por vezes, crianças com três anos já sabem ler. O que fazer com jovens dotados de capacidades excepcionais? Segundo Leandro Almeida, investigador da Universidade do Minho (UM), “a curva de desempenho vai se aproximando da idade, com o crescimento e os pais devem ser responsivos, sem exigir a excelência”.

O potencial, dificuldades e apoios de crianças que desenvolvem talentos especiais precocemente é um dos temas em foco nas II Jornadas de Pediatria do InstitutoCuf, que se realizam hoje e amanhã, na Ordem dos Médicos do Porto.

O psicólogo da UM alerta para o facto de estes indivíduos poderem ficar “com depressões, ansiedade e desânimo”, caso sejam afastados de ambientes normais e introduzidos em instituições seleccionadas. “Não sou adepto de medidas de segregação. Escolas próprias para estes alunos podem não ser a melhor solução, porque em idade adulta não se conseguirão contextualizar socialmente. Não devem ficar dentro de ‘um vidro’, resguardadas”, salientou ao jornal «Ciência Hoje» (CH).

Uma criança “prodígio” é alguém dotado de uma habilidade especial muito desenvolvida, dentro de uma actividade socialmente reconhecida – seja esta de âmbito técnico, artístico, científico ou profissional, já que não se destacam tendencialmente numa área – e que manifesta uma capacidade intelectual acima da média, desde cedo, quando comparada com outras da mesma idade e cultura.

Usa-se frequentemente o Quociente de Inteligência (Q.I.) como medida que estipula uma fronteira entre estas e outras pessoas. Um Q.I. de 130 ou superior, demonstrado em testes específicos, determina que a criança é excepcional.
 
Leandro Almeida trabalha com meninos sobredotados há “pelo menos doze anos” e acompanha-os até à idade adulta. Faz pesquisa e intervenção, apoia a família e caracteriza perfis psicológicos e a dimensão cognitiva. “Um bom diagnóstico depende de medidas educativas precursoras e preditivas”, explicou. Nem sempre é fácil perceber que a criança é superdotada, mas tendem a demonstrar “sinais de precocidade que outras não têm”, continua.

Em ambiente natural

O investigador defende o acompanhamento por parte de um tutor, para ajudá-las no processo vocacional e acrescenta que “é fundamental incentivá-las, igualmente, para outras áreas, nomeadamente, a motricidade, expressão e sociabilidade” – considera ainda “um erro tendencial querer que estas crianças beneficiem de programas próprios”. Os meninos superdotados devem conviver naturalmente com todas as crianças e “a aposta é fazer com que estes não se afastem”.

Para o Instituto da Inteligência (Porto) há três níveis de crianças com elevadas capacidades e talentos. No nível três ficam as pessoas ditas "médias", as que se seguem (em quarto) são "muito inteligentes"; no quinto patamar estão as "sobredotadas" e, em sexto lugar, as "altamente sobredotadas" (ou "génios" como Einstein depois de comprovada capacidade e após muitos anos de vida e experiência).
 
Um sobredotado já nasce diferente? Alguns pediatras acreditam que, com condições favoráveis e estimulação adequada, qualquer criança pode atingir algum nível de sobredotação, talento ou prodígio. Todas as crianças nascem com mais ou menos potencialidades mas algumas, por razões genéticas, estão melhor preparadas para superarem a maioria das outras, mesmo quando a estas se proporcionem as mesmas condições e os mesmos estímulos.

Emídio Carreira, presidente da comissão científica da reunião, adiantou ao «CH» que, em Portugal, existem “entre três a cinco por cento de crianças com características sobredotadas”. No entanto, o Instituto Cuf ainda não tem uma unidade dirigida a este tipo de público. Algumas das extensões que facultam apoio a estes pequenos génios são as Faculdades de Psicologia da Universidade do Minho e do Porto.

Prática pediátrica

Além da abordagem ao tema das crianças sobredotadas, os especialistas presentes irão ainda debater aspectos legais da prática pediátrica, nomeadamente, questões da recusa de observação de doentes e problemas de saúde em crianças, como a doença reumática infantil e outros sub-temas de discussão: o pediatra no infantário, situações de evicção e declarações médicas e prevenção de acidentes.

Paralelamente, realizam-se as Jornadas de Enfermagem, dedicadas aos temas da alimentação durante o primeiro ano de vida, desenvolvimento psico-motor e alterações do comportamento na criança. Ainda, decorrem sete cursos dedicados à prática de ambulatório na alimentação, ginecologia e obstetrícia na adolescência, exercício físico e prática desportiva, gastrenterologia, infecciologia, massagem ao bebé e coaching aplicado à gestão de conflitos."

Por Marlene Moura, in: http://www.cienciahoje.pt/

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