quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A minha leitura do Warnok Report


O Warnock Report, em 1978, teve um papel decisivo e um peso convulsionador no movimento de ideias a favor da integração educacional de crianças com Necessidades Educativas Especiais, assim como na divulgação deste conceito.

A Educação Especial começa a ser relacionada, sobretudo, com uma problemática que envolve todo o sistema regular de educação, observando-se uma tendência ao nível mundial para integrar as crianças com NEE no seio das estruturas regulares de ensino: a “integração”.

Este relatório promove ainda a mudança dos conceitos relativos a “normal”, “deficiente” e “educação de deficientes”, e em sua substituição propõe o conceito de crianças com “Necessidades Educativas Especiais” e define “Educação Especial” como um conjunto de medidas a serem utilizadas para responder a essas mesmas necessidades.

O conceito de deficiência não é totalmente abandonado e é proposto um quadro para a recolha de dados sobre o número de crianças que são portadoras das categorias mais importantes de deficiências. No entanto, esta categorização começa a ser contestada por inúmeras razões:

   - As categorias constituem rótulos que só por si são estigmatizantes, oferecendo resistência à mudança;

   - Não revelam o problema educativo da criança;

   - Não enquadram satisfatoriamente as crianças portadoras de deficiência de diversa ordem;

   - Pressupõem a ausência absoluta de problemas educativos no grupo das não deficientes, o que é falso;

   - Perpetuam uma rígida distinção entre normal e deficiente, o que é incorrecto e traz consequências negativas para a criança;

   - As categorias clássicas fazem perder de vista as diferenças individuais.

Propõe-se, então, a noção de crianças com “Necessidades Educativas Especiais” e define-se a Educação Especial como o conjunto de processos utilizados para responder a essas mesmas necessidades. Esta visão mais alargada e flexível possibilita enfatizar o conceito de educação, como algo que se impõe também fora do contexto escolar, sendo necessária a adopção de medidas educativas especiais independentemente de se situarem além da escolaridade obrigatória.

Assiste-se, claramente, à emergência de um paradigma Educacional de referência, contrariando o paradigma Médico – Pedagógico, até então vigente, abrindo perspectivas a uma intervenção essencialmente virada para os sujeitos e as suas capacidades.

Passados mais de trinta anos voltamos a apostar na categorização dos alunos, tendo por referência critérios expressos na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde da Organização Mundial de Saúde (art.º 4º), no momento em que a nível mundial se tende a descategorizar e olhar para uma pessoa no seu todo, rejeitando olhares parcelares que a despersonalizam.

Diferenciar, mesmo positivamente, separando, não vai ensinar cada um a aprender a lidar com o outro que é diferente de si, porque nunca se tem a possibilidade de ouvir uma outra forma de estar, de fazer e de sentir. Aprender a lidar com o outro na sua diversidade é estar com ele, aprender com ele, trocar experiências e saberes, nos contextos que são de todos.

4 comentários:

  1. EXCELENTE!!! Parabéns pupilo.:0) Bom artigo sobre quando se iniciou uma viragem e se começa um percurso positivo! Acredito que estamos nesse caminho, embora com algumas pedras a dificultarem..., mas como disse um poeta, é de pedras precisamente, que se fazem os caminhos. Retirando uma ou outra pedra com que nos deparamos diáriamente, continuo no meu lema. Que é preciso acreditar nas nossas práticas e que, seja qual for o instrumento utilizado para a "categorização" o que mantenho é que as nossas crianças tenham o que lhes é de direito: Educação para todos atendendo à especificidade de cada um!!
    Bjs

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  2. É com "pedras" que iremos "construir" o futuro!!! Pedras essas que bem juntas farão uma "casa" melhor...
    A vida é feita de dificuldades...O percurso da Educação em geral, mas especificamente da Educação Especial é bastante complicado...Mas iremos conseguir!!!

    Bjs

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  3. Confesso que hoje precisava de ouvir estas vossas palavras... Que bem que elas me souberam - obrigada! (Nada de especial, apenas um dia mais cansativo).
    Grande abraço
    Cristina

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  4. Estaremos cá sempre!!!

    Grande abraço

    Nelson

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