"Interacção Mãe-Criança:
O primeiro elemento preponderante neste processo de estimulação precoce é a interacção mãe-criança, que não sendo estabelecido na gravidez, deverá ser na amamentação, ou em caso de adopção assim que se receba a criança. A criança sente o amor com que é recebido, cuidado, alimentado e acarinhado, nos primeiros meses de vida e a Mãe é a figura chave, praticamente aquela figura que a criança reconhece pela voz, pelo cheiro, pelas batidas cardíacas ou tão somente aquela figura que aprendeu a conhecer, e a fazer dela a sua referência, o seu apoio.
Conheço uma mãe que escolheu ter um filho com Trissomia 21, que para além deste quadro é ainda de etnia diferente, sem nunca o ter visto anteriormente, apaixonou-se por ele logo à primeira vista e tem por ele o verdadeiro amor de mãe, que muitas mães naturais dos seus filhos não conseguem ter. É uma verdadeira história de amor e um excelente exemplo de interacção mãe-criança. Uma prova que não se ama só quando há uma ligação de sangue, a capacidade de entrega, empenho, de amor depende da forma como a pessoa aceita e encara os desafios da vida e pode ser suficientemente forte para eliminar todas as barreiras de mentalidade.
Este é o primeiro passo para uma integração em pleno, é encararmos o nosso filho exactamente como tão somente o nosso filho, precisando ou não de mais apoio - É NOSSO! Tendo sempre consciência das suas limitações e dificuldades para o podermos apoiar o mais possível, mas “amando-o até à loucura”, onde “o céu é o limite”.
Quando existe uma ligação assim tão forte, quando se ama de facto tanto assim, tudo o que fazemos, acontece de uma forma espontânea e natural, e tudo no dia-a-dia acaba por ser trabalho. As rotinas do dia-a-dia, de casa., no carro, tudo é trabalho, tudo serve para trabalhar conceitos, vocabulário, acções, noções, e espevitar a linguagem.
- A Música como forte complemento -
Depois passamos ao ponto seguinte, assim que a criança passar a fazer parte da nossa vida, seja com o teste de gravidez positivo, seja recebendo a criança por adopção, a musica é um elemento preponderante no desenvolvimento cognitivo da criança. Habitue-se a ter sempre música a tocar, de preferência música clássica, instrumental, baladas, infantis. Não quer dizer que não se oiça outro tipo de musica mais ritmada, mas sempre com bom senso, porque o objectivo é o de relaxar e o de estabelecer uma forte ligação com a criança. E depois de nascer, ou passado algum tempo essas mesmas melodias serão a ponte de ligação a um ambiente protector, facilitando até nos sonos da criança. Por exemplo: Lembro-me de trautear durante a gravidez das minhas filhas, em especial da mais nova uma musica infantil, que eu própria aprendera com os meus 4, 5 anos, quando comecei a frequentar a creche. Depois delas nascerem, sempre que eu trauteava essa melodia, especialmente quando estavam muito agitadas, elas sossegavam e até servia para adormecerem. Na gravidez da mais nova ouvia muito IL Divo, e depois de nascer punha as mesmas colectâneas a tocar e ela dormia numa tranquilidade absoluta.
A música sempre acompanhou o decorrer do dia, a música, o “palrear” dos periquitos, tudo eram estímulos sonoros e conceitos. Mesmo quando dormia, o seu sono era sempre acompanhado de uma relaxante balada que a deixava perfeitamente tranquila. Experimentem pais, e vejam como reagem os v/ filhos e se resultar consolidem este hábito.
Durante todo este tempo que o seu filho está acordado, fale com ele, leve o berço para junto de si e da tarefa que está a desempenhar, descreva tudo o que está a fazer e porquê, faça-o sempre.
Se puder coloque músicas infantis a tocar de fundo e executando as suas tarefas, intercale o relato do que está a fazer, com o trautear das músicas, fazendo-o sempre de frente para o seu filho.
Tenha sempre em mente uma coisa:
O seu filho que nasceu com Trissomia 21 / Sindrome de Down, o estigma retratado no rosto, não é nem “coitadinho”, nem “atrasadinho”, apenas nascem adormecidos para os estímulos. Somos nós mães com o nosso Amar Incondicional de mãe a um filho, que numa entrega absolutamente espiritual, os acordamos para o mundo que os recebeu, infelizmente ainda muito de braços fechados. Portanto, desde o início, TUDO, TUDO, TUDO tem de ser ensinado ao seu filho. Tudo o que com ele fizer, se se entregar de espírito numa entrega total, amando incondicionalmente, serão sementes de amor e trabalho que a seu tempo brotarão.
Todos os cuidados que lhe prestar, faça-os com muito Amor e Entrega, descreva-lhe tudo o que faz, fale sempre de frente para os seu filho, o Amor que lhe transmite pelo olhar, pelo toque, pelos beijinhos doces de mãe, levarão um dia o seu filho a lhe responder com um sorriso, depois de a ver sorrir muitas vezes. Não olhe, não pegue, nao cuide do seu filho com comiseração, mas com muito Amor. Ele precisa de sentir e ouvir o Amor que sai de dentro de si, precisava de observar o movimento dos seus lábios quando com ele fala. Ele entenderá não só a forte mensagem de Amor que lhe transmite como o movimento dos lábios o fará, com o tempo, repetir, e com a continuação palrar. Trauteei-lhe músicas do seu imaginário, e rapidamente as identificará e associará com o amor e carinho materno. A seu tempo e com a sua ajuda e interacção, vai trauteá-las e repetir sons e até vocábulos.
Durante os primeiros tempos, especialmente durante a licença de maternidade é consigo que o seu filho vai passar 24 sob 24 horas, tudo o que o estimular, serão sementes que brotarão mais tarde. Vocês os dois conseguiram feitos, que aos olhos de terceiros, (familiares e técnicos) pareceram uma miragem, muitas vezes irão dizer, ou apenas pensar que viu o seu filho atingir feitos, reagindo a estímulos ou fazendo gracinhas, porque é o seu amor de mãe que vê coisas onde elas não existem, que é fruto da sua imaginação, pois deixe-me dizer-lhe são o fruto das sementinhas que foi depositando e foram brotando, é fruto da interacção mãe-criança. Só consigo é que o seu filho “faz coisas” que mais ninguém vê, nem que pode registar, sabe porque o seu dar e receber é tão grande e profundo que é só consigo que o seu filho reage aos estímulos, porque foi consigo que aprendeu a reagir. Foi a mãe que tantas vezes falou, cantou, fez que o seu filho aprendeu a identificar, associar e a repetir. Esta interacção é única! Técnico nenhum, nem mais ninguém da família o conseguirá. Apenas a Mãe, ou o pai se for o caso, conseguirá respostas, resultados, porque só a Mãe ou Pai, conforme, se entregaram neste amar tão incondicional, aceitando este desafio, acreditando nos seu filho, tendo apenas o céu como limite para o estimular e ajudá-lo nas aquisições. Não se esqueça sempre da componente musical, sonora, sensorial.
Interacção com os irmãos:
Se o seu filho tem irmãos, e mais velhos, estabeleça um laço entre o(s) irmãos e o bebé que vai nascer. Depois de nascer serão bombardeados pelos irmãos, de perguntas.
No meu caso e assim que soube da gravidez, imediatamente incluí a minha filha em todo o processo da gravidez. A Sofia tinha 5 anos. Acompanhava-nos nas consultas, nas ecografias, e viveu toda a gravidez com tanto ou mais entusiasmo que eu e o pai. A todos disse que a irmã seria a prenda dos seus 6 anos, a melhor de todas. E foi. A Sara nasceu 12 minutos antes da irmã fazer 6 anos. Depois da irmã nascer e de nos ter ouvido falar de Trissomia 21, perguntou o que era:
“Mãe o que é Trissomia 21?” Como só tinha 6 anos, expliquei-lhe que era uma criança como ela, apenas que iria aprender as coisas mais devagar e com mais dificuldade. E ela respondeu de uma forma firme, sentida e com muito Amor:
“Vou ensinar à mana tudo o que ela precisa aprender!” Esta resposta ainda hoje ecoa no meu coração, e marcou-me profundamente, pois de facto a mais valia de ambas é a interacção entre elas e o tanto que dão uma à outra.
A Sara iniciou um Programa de Intervenção Precoce, 5 dias após ter nascido, e a Sofia e nós os dois acompanhava-nos sempre. Via a terapeuta ocupacional trabalhar com ela, e como as sessões eram só de 15 em 15 dias, a terapeuta dizia-nos o que fazermos em casa.
Em casa não só púnhamos em prática as estratégias recomendadas como íamos sempre mais além. A Sofia sempre que podia estar com a irmã, estimulava-a brincando e dando-lhe muito amor. Temos fotos imperdíveis de alguns desses momentos. Tudo era razão para estímulo, para trabalho. Até o ensinar a manipular, para além da estratégia e empenho da técnica de TO dela, que foram duas, (uma até aos 2 meses e outra dos 2 meses até hoje e a Sara já vai fazer 4 anos no mês que vem), foi muito trabalho da Sofia a ensinar à irmã.
Nas brincadeiras, nas rotinas, nos momentos juntas, em tudo a Sofia ensinava e ensina a irmã. Hoje são de facto a maior valia uma da outra, a Sofia porque vai crescendo, não só educada para aceitar a Deficiência com o respeito e naturalidade que a mesma merece, como também para ajudando a irmã como até aqui tem feito, entender que ser portador de uma deficiência não faz da irmã menos que qualquer outra criança, mas tão somente uma criança como as restantes. A Sara porque tem na Sofia a sua mentora, a sua inspiração, a companheira de brincadeiras, de traquinices, a sua referência.
Grande parte do excelente desenvolvimento da Sara se deve não só às suas capacidades, como à irmã e toda a forte componente familiar que a Sara tem de retaguarda.
Interacção Familiar:
Com o passar do tempo, toda a família, mesmo que aquela parte da família que não reage muito bem à chegada de um bebé com Trissomia 21, depressa vai quebrar pelo poder de Encantamento que este Cromossoma a mais traz.
Depressa tomam nota, que fazem gracinhas como as demais crianças, e que só precisam de um empurrãozinho para lá chegarem.
Depressa se deixam contagiar com as traquinices e brincadeiras e sem darem por isso nestes momentos, mesmo que não muito regulares são enriquecedores.
Desde por os avós a andar nos seus triciclos, a andarem de gatas com eles às costas, a esconderem-se com eles nos armários a brincarem, obrigando a terceira idade a rejuvenescer e a comprovar que os seus corpos têm mais elasticidade e resistência do que sonhavam, vale tudo. E esta interacção é de facto preciosa e muito rica em aprendizagem e consolidação de laços.
A Sara para além da irmã, vê o seu ídolo na tia, que connosco vive, mais como irmã do que como tia. Com os seus 27 anos, cria brincadeiras de maior índice de traquinice, que torna-se numa forte consolidação de interacções, e laços que alguma vez se imaginou.
Imaginem uma corrida de triciclo em pleno corredor, sendo os concorrentes de 27, 9 e 3 anos, e então quando os seniores participam é de facto o rubro.
Este enriquecimento, é a grande chave para um bom desenvolvimento. Já dizia um autor, que não há nada melhor que o Sorriso e a Gargalhada feliz de uma criança, quanto mais a de três. Visualizem o quadro. (Eh,eh,eh)."
De: Sandra Morato