sábado, 15 de janeiro de 2011

Aulas de Matemática para Pais e Filhos: uma experiência

O ano de 2009/2010 trouxe ao 5.º ano da escola a experimentação de um novo programa de Matemática, que implicava mudanças relativamente ao que fora trabalhado no 1.º ciclo. Os alunos sentiram algumas dificuldades e muitos pais, habituados a acompanharem o estudo dos filhos, também. À saída da escola, a professora de Matemática, Irene Soares Pinto, foi abordada por algumas mães, que lhe confidenciaram as suas angústias na orientação dos educandos. Logo ali surgiu a ideia de se fazer, quinzenalmente, em horário pós-lectivo, uma aula de Matemática com os alunos e os seus pais. Foram convidados os alunos das duas turmas da professora e respectivos encarregados de educação. A adesão foi particularmente boa numa das turmas e os familiares não se resumiram aos pais; houve irmãos, primos e até uma avó. As habilitações literárias destes "alunos informais" eram variadas, desde o 4.º ano até à licenciatura.

Os conteúdos abordados nessas aulas, nas palavras da professora Irene, foram "as mudanças exigidas pela filosofia do novo programa, a valorização do desenvolvimento das competências transversais, do raciocínio lógico e da comunicação matemática e a importância do recurso a tarefas de natureza exploratória para se atingirem os objectivos desejados". Em cada sessão a professora propunha actividades para os alunos e os pais realizarem em conjunto, assistindo-se a jovens a ajudarem os familiares e vice-versa; à valorização de diferentes percursos para resolver o mesmo problema, devendo o raciocínio ser devidamente explicitado; à apropriação do raciocínio lógico e dos termos próprios da comunicação da disciplina por todos os intervenientes, numa caminhada conjunta e cúmplice. Por vezes, os alunos apresentaram o conteúdo da aula que a turma tivera anteriormente, com recurso aos materiais interactivos nela usados, colocando aos pais as questões que a professora lhes havia apresentado.

Os resultados desta experiência foram francamente positivos. As sessões eram espaços de trabalho, mas também de convívio. A cumplicidade estabelecida entre os pais e os alunos estendia-se à professora e à escola. O número de participantes nas sessões não diminuiu ao longo do ano, o que mostra o interesse que a actividade suscitou. O ambiente, embora de trabalho, era absolutamente informal, com muito espaço para o humor e com muitos momentos lúdicos. Ninguém se queixava de cansaço no fim. Pelo contrário, as pessoas ficavam a conversar umas com as outras e com a professora, como que na busca de descompressão das angústias do dia de trabalho. O jantar, esse, ficava em casa à espera. A melhoria dos resultados escolares dos alunos que frequentaram esta actividade é uma evidência dos benefícios que eles recolheram. Dizia a professora que, muitas vezes, estes estudantes a ajudavam nas aulas, na orientação dos colegas, em tarefas mais práticas que requeriam uma maior monitorização, devido às competências que desenvolviam na Matemática para Pais e Filhos, onde havia um trabalho bastante prático e reflectido em grupos mais pequenos, de onde os problemas de disciplina estavam ausentes.

Se a presença assídua dos pais não fosse já um indicador da avaliação positiva que faziam da experiência, as dúvidas cairiam por terra com os seus depoimentos, de que cito apenas alguns excertos:

Conseguimos, assim, perceber como chegamos ao resultado de um problema. Verificámos que, afinal, a matemática está ao alcance de todos e ficámos mais sensíveis à sua constante presença nas acções do nosso quotidiano."

"O objectivo desta actividade foi superado no seu todo e para além das expectativas, pois, desde o início, notamos que os nossos filhos passaram a compreender melhor a matemática e, consequentemente, suscitou de novo, e até mais empolgante, o interesse na sua aprendizagem, o que se repercutiu em muito bons resultados."

"Com o desenrolar desta acção, verificamos que os laços de união entre os três actores envolvidos, escola, família e alunos, se estreitaram, permitindo assim que caminhássemos em prol de um único objectivo, o sucesso escolar dos jovens envolvidos.

"A Matemática deixou de ser em alguns casos o "Bicho Papão" para ser uma disciplina divertida."

É de salientar que esta experiência resultou da iniciativa da professora e foi realizada em horas não contabilizadas nem remuneradas, apenas recompensadas pelos bons resultados dos alunos e pelo reconhecimento de todos os participantes.

Nota: Todas as citações foram retiradas da revista Ozarfaxinars n.º 18 do CFAE de Matosinhos, onde podem ser encontrados relatos de outras experiências interessantes de colaboração entre a escola e a família.
 
Por: Armanda Zenhas 

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