Após o incremento da formação, decorrente da institucionalização de um subsistema e do investimento de milhões de euros, os resultados foram decepcionantes. Após vinte anos e milhares de cursos e palestras, pouco ou nada se alterou na atitude dos professores, pouco ou nada terá mudado nas suas práticas: "o professor vai, fica ouvindo e, no fim, não aprende nada que consiga usar".
Há uns vinte anos atrás, fiz uma breve incursão na formação inicial de professores. Ao cabo de cinco anos, fui embora. E não desejei voltar. Dessa breve experiência, ficaram amigos e recordações. Ficou a confirmação de que outra formação de professores é necessária e possível.
Recusei trabalhar sozinho e reparti com uma jovem psicóloga os tempos de ensinar e aprender. Avisaram-me que era norma os alunos assinarem à entrada e à saída de cada aula, mas recusei o uso das "listas de presenças", por serem inconciliáveis com a "formação de professores autónomos e responsáveis" (conforme rezava o projecto da instituição de formação). E, também, porque eu não dava aula - aprendia com os jovens alunos que, hoje, são professores diferentes daqueles que uma formação inicial obsoleta engendra.
Atrevo-me a registar um episódio "exemplar". Perguntei aos meus alunos o que queriam aprender. Responderam que desejavam que eu falasse de Jerome Bruner. Manifestei a minha satisfação por irmos abordar o pensamento e a obra de um autor que eu admiro e quis saber a razão pela qual haviam escolhido esse autor. Esclareceram-me: na semana seguinte, iriam fazer uma prova de psicologia da educação e, entre os possíveis conteúdos da prova, estariam os trabalhos de Bruner. Quando eu quis saber o que já tinham estudado desse autor, responderam que nada tinham estudado, que bastaria decorar na véspera da prova. E a minha prelecção também ajudaria... Recusei fazê-la e mandei-os para a biblioteca, para que lessem os livros do Bruner. Se desse estudo resultassem dúvidas, eles poderiam vir ao meu encontro. Passei todo o dia na faculdade. No final da tarde, dialoguei com um pequeno grupo de alunos, que me trouxeram interrogações decorrentes das leituras que fizeram.
No início do ano, combinámos que, entre outros trabalhos, fariam uma pequena dissertação sobre um tema à sua escolha. Desagradável surpresa: a maior parte dos trabalhos era cópia de trabalhos feitos por alunos... de anos anteriores. Os raros originais primavam pela falta de pontuação e de... ideias próprias. De fundamentação científica, nem é bom falar - a leitura daqueles textos era um autêntico suplício. Os alunos amontoavam um chorrilho de lugares-comuns alinhavados com citações a esmo. Quando os interpelava sobre o conteúdo teórico das suas produções, confirmava que fazer citações não é sinónimo de ter aprendido alguma coisa. Se retirássemos as citações, nada restaria.
Essa breve experiência, fez-me recordar as heresias a que tive de recorrer, quando percorri a via-sacra da minha passagem pela situação de estudante universitário. Dotado de um mau feitio a toda a prova, perverti regras de um academismo fútil, questionei falsas solenidades e o respeitinho instituído. Mas quantos o fazem? Talvez poucos ousem fazê-lo, porque mais vale um diploma na mão do que dois a voar...
Há uns vinte anos atrás, fiz uma breve incursão na formação inicial de professores. Ao cabo de cinco anos, fui embora. E não desejei voltar. Dessa breve experiência, ficaram amigos e recordações. Ficou a confirmação de que outra formação de professores é necessária e possível.
Recusei trabalhar sozinho e reparti com uma jovem psicóloga os tempos de ensinar e aprender. Avisaram-me que era norma os alunos assinarem à entrada e à saída de cada aula, mas recusei o uso das "listas de presenças", por serem inconciliáveis com a "formação de professores autónomos e responsáveis" (conforme rezava o projecto da instituição de formação). E, também, porque eu não dava aula - aprendia com os jovens alunos que, hoje, são professores diferentes daqueles que uma formação inicial obsoleta engendra.
Atrevo-me a registar um episódio "exemplar". Perguntei aos meus alunos o que queriam aprender. Responderam que desejavam que eu falasse de Jerome Bruner. Manifestei a minha satisfação por irmos abordar o pensamento e a obra de um autor que eu admiro e quis saber a razão pela qual haviam escolhido esse autor. Esclareceram-me: na semana seguinte, iriam fazer uma prova de psicologia da educação e, entre os possíveis conteúdos da prova, estariam os trabalhos de Bruner. Quando eu quis saber o que já tinham estudado desse autor, responderam que nada tinham estudado, que bastaria decorar na véspera da prova. E a minha prelecção também ajudaria... Recusei fazê-la e mandei-os para a biblioteca, para que lessem os livros do Bruner. Se desse estudo resultassem dúvidas, eles poderiam vir ao meu encontro. Passei todo o dia na faculdade. No final da tarde, dialoguei com um pequeno grupo de alunos, que me trouxeram interrogações decorrentes das leituras que fizeram.
No início do ano, combinámos que, entre outros trabalhos, fariam uma pequena dissertação sobre um tema à sua escolha. Desagradável surpresa: a maior parte dos trabalhos era cópia de trabalhos feitos por alunos... de anos anteriores. Os raros originais primavam pela falta de pontuação e de... ideias próprias. De fundamentação científica, nem é bom falar - a leitura daqueles textos era um autêntico suplício. Os alunos amontoavam um chorrilho de lugares-comuns alinhavados com citações a esmo. Quando os interpelava sobre o conteúdo teórico das suas produções, confirmava que fazer citações não é sinónimo de ter aprendido alguma coisa. Se retirássemos as citações, nada restaria.
Essa breve experiência, fez-me recordar as heresias a que tive de recorrer, quando percorri a via-sacra da minha passagem pela situação de estudante universitário. Dotado de um mau feitio a toda a prova, perverti regras de um academismo fútil, questionei falsas solenidades e o respeitinho instituído. Mas quantos o fazem? Talvez poucos ousem fazê-lo, porque mais vale um diploma na mão do que dois a voar...
De: José Pacheco
In: EDUCARE
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