quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Mutação associada ao nanismo previne cancro e diabetes

Uma mutação num gene fundamental para o crescimento, que origina um tipo de nanismo, previne o cancro e a diabetes numa população de anões no Equador, mostra um estudo publicado em avanço na revista Science Translational Medicine.

Uma equipa internacional de cientistas analisou durante 22 anos um grupo de anões que vivem no Equador e que sofrem da síndrome de Laron. Esta doença acontece quando existe uma mutação num local determinado de um gene que codifica a proteína das células que reconhece a hormona do crescimento.

Esta proteína provoca uma série de acontecimentos, entre os quais o crescimento dos ossos, que é responsável pelo aumento da estatura das pessoas durante as duas primeiras décadas de vida. Quando ocorre esta mutação, as células tornam-se insensíveis à hormona de crescimento e as pessoas mantêm-se pequenas com várias características associada ao nanismo.

Os cientistas compararam 100 indivíduos com esta síndrome com 1600 familiares que tinham a estatura normal. Isto garantia que os dois grupos estavam submetidos aos mesmos factores ambientais.

Ao longo de mais de duas décadas, a equipa não detectou nenhum caso de diabetes no grupo com a mutação e encontrou um único caso de cancro que não foi fatal. Do grupo de controlo, cinco por cento foram diagnosticados com diabetes e 17 por cento com cancro.

“As pessoas que tinham o receptor deficiente da hormona de crescimento não sofreram duas das maiores doenças relacionadas com o envelhecimento. Também têm uma incidência muito pequena de ataques cardíacos, mas o número de mortes devido a este problema é demasiado pequeno para determinar se é ou não significativo”, disse em comunicado o último autor do artigo, Valter D. Longo, investigador da Universidade do Sul da Califórnia, em Los Angeles, nos Estados Unidos.

Segundo os estudos, a insensibilidade à hormona do crescimento faz com que haja menos oxidação da molécula de ADN, além de um comando rápido da morte de todas as células em que se acumulem danos no ADN. Estas duas características poderão explicar a diminuição de cancro.

Por outro lado, a população tinha uma sensibilidade maior à insulina, esta substância também estava menos concentrada no sangue – duas características que diminuem fortemente a hipótese de se desenvolver diabetes.

Esta população de anões foi descoberta em 1987 pelo investigador e médico Jaime Guevara-Aguirre, que pertence ao Instituto de Endocronologia, Metabolismo e Reprodução, de Quito, no Ecuador. O médico é o primeiro autor do artigo do estudo.

“Descobri a população em 1987”, disse ao New York Times Guevara-Aguirre. “Em 1994 apercebi-me que estes pacientes não tinham cancro comparado com os seus familiares. As pessoas disseram-me que eram demasiado poucas pessoas e para tirar alguma conclusão era preciso esperar dez anos, por isso eu esperei. Ninguém acresdiou em mim até falar com Valter Longo em 2005.”

Estes dados corroboram os estudos feitos em ratinhos que tinham o mesmo tipo de deficiência associado à hormona do crescimento, e que por isso, viviam vidas mais longas e eram mais saudáveis.

No entanto, o grupo que sofre da síndrome teve uma esperança média de vida equivalente ao grupo sem a síndrome devido a uma percentagem significativa de mortes associadas a problemas de álcool e acidentes.

O artigo conclui que esta descoberta abre portas para o estudo de bloqueadores da hormona de crescimento para prevenir doenças associadas ao envelhecimento como o cancro e a diabetes.

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