segunda-feira, 5 de julho de 2010

Actividades de férias impõem-se na escola pública

A escola pública começa a oferecer actividades de férias antes exclusivas dos colégios. Ainda circunscritas a algumas escolas, a tendência é para se tornarem uma realidade no país, muito por iniciativa das associações de pais.

Na Escola Básica Integrada de Vale Rosal, Charneca da Caparica, Almada, o programa promovido pela associação de pais, em parceria com o estabelecimento de ensino e a autarquia, inclui praia, jogos, desportos, tardes radicais, oficinas de escrita criativa, culinária, fantoches, expressão plástica e cinema, entre outras “distracções”.

A escola praticamente só cede as instalações, conta o professor Venceslau Rodrigues, da direcção do estabelecimento, onde os pais “estão sempre a inventar”. “A ocupação das crianças durante três meses é cada vez mais uma preocupação dos pais, especialmente nestes centros onde as famílias estão desenraizadas. No meu tempo não era um problema, brincávamos na rua”, recorda.

Clarinda Almeida, presidente da associação de pais, confirma que a iniciativa nasce da necessidade de responder aos tempos livres das crianças: “A escola pública está organizada de uma forma que não se coaduna com a vida das famílias, que não têm três meses de férias”. Também o presidente do Conselho de Escolas, Álvaro Almeida dos Santos, nota uma preocupação crescente das escolas com a ocupação dos alunos, de forma pedagógica, “não só para entreter os meninos, mas aproveitando para actividades de transição” para os preparar para um novo ciclo.

Clarinda Almeida sublinha a vontade de “pôr os meninos a fazer coisas diferentes do que se fazia nos antigos ATL”, onde as crianças estavam muito tempo em convívio, mas “sem actividades orientadas e dinamizadas de uma forma lúdica para que aprendessem também alguma coisa”. Para Álvaro dos Santos, é cada vez mais comum este tipo de parceria entre associações, escolas e autarquias: “Penso que dentro de anos temos o país coberto por estas actividades”.

Em Vale Rosal, os pais decidiram que não queriam os filhos “só a brincar as férias inteiras”, até porque as crianças gostam de estar juntas, mas se não tiverem actividades programadas “aborrecem-se”. Assim, nasceu um plano diário, elaborado após consulta aos destinatários e desenvolvido por uma monitora.

“Todos os dias as crianças fazem uma actividade diferente, desde culinária a actividades desportivas, música e inglês”, explica Clarinda, enquanto decorre numa tarde quente de Verão uma simulação de um concurso televisivo popular entre os mais novos. Chama-se “Quem quer Ganha” e aqui todos querem ganhar, mas para conquistar o prémio – um conjunto de raquetes – é precisar mostrar algum saber.

As perguntas são adequadas à idade, mas de cultura geral e é também preciso mostrar dotes de expressão mímica, depois de acertar no nome da fada do Peter Pan, no vinho português mais conhecido, no Dia da Liberdade e no médico que trata dos ouvidos e garganta, entre outras questões. “Temos uma capacidade de resposta cada vez maior e mais habilitada em termos de animação cultural. São aprendizagens importantes, não é passivo. Os jogos promovem a socialização e o espírito de colaboração”, diz Álvaro Santos.

4 comentários:

  1. Muito bem pensado. De facto os horários escolares não condizem com a realidade da vida de trabalho dos pais. Alguma coisa tem de mudar e felizmente já se vão vendo iniciativas deste género. Muito importante é que esta iniciativa não coloque ninguém de fora... As escolas integram crianças com necessidades educativas especiais - há que começar a considerar com seriedade este assunto, que creio tem sido muito negligenciado, com efeitos dramáticos na vida das familias que encontram a deficiencia no seu percurso.

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  2. De facto a Escola precisa de repensar as suas práticas, as interrupções lectivas são apenas um exemplo...
    E tal como a Cristina diz, "muito importante é que esta iniciativa não coloque ninguém de fora"...
    Exige-se mudança, mas uma mudança sustentada no diálogo e afectos de modo a que as parcerias tenham sucesso...

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  3. De facto a Escola precisa de repensar as suas práticas, as interrupções lectivas são apenas um exemplo...
    E tal como a Cristina diz, "muito importante é que esta iniciativa não coloque ninguém de fora"...
    Exige-se mudança, mas uma mudança sustentada no diálogo e afectos de modo a que as parcerias tenham sucesso..

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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