quinta-feira, 8 de julho de 2010

Ceder ou não ceder?


A incapacidade por parte dos pais em impor limites claros aos mais novos está a ter consequências catastróficas. Numa tentativa de compensar os filhos, às vezes não sei bem de quê, os pais dão, dão e dão.


"A minha filha, que tem 2 anos e 9 meses, tem sido criada pelos avós. Como eles fazem tudo o que ela quer, esta faz birras constantemente. Como mãe acabo também por ceder aos seus comportamentos, fazendo tudo o que ela quer. Sinto-me mal com isto, porque sei que estou errada. O que fazer?"
Cláudia M.

Errar não tem mal; o que tem mal é persistir no erro, sobretudo quando se tem plena consciência de que este está a ser continuamente repetido. Nesta situação concreta, acredito que esta mãe, à semelhança de muitas outras, só é permissiva em termos educacionais porque não tem a noção exacta do que isto pode implicar. A incapacidade por parte dos pais em impor limites claros aos mais novos está a ter consequências catastróficas. Numa tentativa de compensar os filhos, às vezes não sei bem de quê, os pais dão, dão e dão.

Dão o que têm e não têm, trabalham horas a fio para lhes dar umas sapatilhas ou umas calças de uma marca substancialmente cara e, no fim, constatam que os filhos não fazem nada pela vida e são verdadeiramente ingratos. Face a isto, perguntam os pais: mas porquê? A resposta está à vista: dar não chega. É preciso exigir. Sem exigência não há crescimento, não há autonomia, não há responsabilidade... Não é por acaso que nas escolas os professores se queixam que os meninos estão cada vez mais infantis e irresponsáveis. As famílias são cada vez menos numerosas e as crianças podem ser tratadas como verdadeiros príncipes, pois os pais têm capacidade para fazer tudo, não necessitando obrigatoriamente da colaboração dos filhos para a realização de tarefas, nas quais, no passado, estes eram envolvidos, nomeadamente tomar conta dos irmãos. Claro está que não há bela sem senão, uma vez que é óptimo as crianças estarem mais protegidas, mas, por outro lado, como nada lhes é exigido, ficam autênticos bebés, mesmo quando em termos etários era suposto que já tivessem alguma autonomia. 

Não é por acaso que atrás referi que, em termos educativos, a permissividade é uma verdadeira catástrofe... Digo-o porque o constato dia a dia na minha prática profissional. São muitos os pais, sobretudo quando os filhos chegam à adolescência, que analisam o erro do passado e concluem que deveriam ter sido mais rigorosos na imposição de regras e limites. O número de pais que aos 12, 13 anos assumem a sua incapacidade para controlar os filhos é demasiado grande para não nos questionarmos...

Que posso eu dizer a esta e a muitas outras mães que, na altura de dizer "não", acabam, em resultado da pressão dos filhos, por dizer "sim"?... Digo que não estão a ajudar os vossos filhos a crescerem equilibradamente, que é preciso limites para desenvolver o sentido de responsabilidade e autonomia, que a falta de regras não é promotora de uma boa auto-estima. Que posso dizer mais? Que vejo todos os dias filhos desorientados, porque lhes faltou ouvirem a palavra "não"...

Num atendimento realizado recentemente com uma jovem de 18 anos que tentara suicidar-se, esta disse-me algo muito curioso: "Transmitiram-me sempre uma visão tão cor-de-rosa da vida, que não fui capaz de lidar com esta primeira grande contrariedade que me surgiu." Queremos tanto que os nossos filhos sejam felizes que, nesta tentativa de os pouparmos, esquecemo-nos de que é fundamental aprenderem a lidar com a frustração e com as barreiras que naturalmente fazem parte da vida.

Resta acrescentar que, quando os avós deseducam, aos pais cabe a missão de, obrigatoriamente, educarem!

De: Adriana Campos



1 comentário:

  1. Para além de saber dizer um NÃO, é importante que a criança saiba o porquê do NÃO e, mais importante ainda, manter o NÃO. O que se vê muitas vezes são pais a dizer NÃO, NÃO, NÃO, ... e depois: "está bem, não me chateies mais!"

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