Em cada sala de aula há uma ou duas crianças com hiperactividade, um problema que não é apenas comportamental, mas também cognitivo, a exigir uma intervenção precoce para evitar “efeitos devastadores” no seu percurso pessoal.
Numa investigação desenvolvida na Faculdade de Psicologia e Ciências de Educação da Universidade de Coimbra Cláudia Alfaiate concluiu que as crianças que padecem desse problema têm associados défices cognitivos de natureza diversa.
A minimização do problema passa pela identificação o mais cedo possível, com a adopção conjugada de terapias comportamental e medicamentosa e de estratégias específicas na sala de aula, bem como pela intervenção concertada dos “agentes escolar e familiar”.
A psicóloga referiu à agência Lusa que este tipo de problemas, que se estima afecte entre 3 a 7 por cento das crianças (média de 1 a 2 em cada sala de aula) em idade escolar, segundo dados internacionais, não tem apenas implicações na carreira académica, mas também no seu relacionamento no dia-a-dia.
“As crianças que apresentam sintomas de desatenção bem como sintomas de hiperactividade e impulsividade têm associados a essa condição défices significativos neuropsicológicos específicos, nomeadamente no que se refere a várias funções cognitivas como memória, funções executivas, atenção e linguagem”, acrescenta.
Os maiores défices de memória detectados foram “ao nível viso-espacial, comparativamente à memória verbal”, mas também ao nível da planificação das funções executivas, nas “dificuldades em antecipar uma solução para um determinado problema”.
Na linguagem, as maiores dificuldades foram “ao nível da linguagem expressiva”. Na atenção, na “incapacidade de atenção numa tarefa mais prolongada, ao nível da atenção sustentada e da atenção dividida (dar atenção a dois estímulos de forma simultânea), explicou.
Além de diagnosticar o problema, no seu estudo Cláudia Alfaiate propõe estratégias de intervenção. Por exemplo, um aluno na sala de aula deve ser colocado próximo do professor e num sítio com um mínimo de elementos de distracção.
Para as dificuldades de planeamento, deve haver um ensino mais claro e explícito de estratégias de resolução de problemas. Igualmente uma aprendizagem com o erro, explicitando-lhe claramente qual foi o erro e como resolvê-lo, acentua.
“É uma perturbação crónica, que tem tendência a permanecer ao longo de toda a vida do indivíduo. O que é preciso é haver intervenção quanto antes e que se minimize o impacto que pode ser devastador, do comportamento e das suas dificuldades cognitivas”, sustenta.
Cláudia Alfaiate considera que a utilização dos testes aplicados no seu estudo a crianças hiperactivas e com défice de atenção pode constituir uma “ajuda essencial para perceber os pontos fracos e fortes ao nível das funções cognitivas” e, a partir da informação assim recolhida, definir estratégias de intervenção mais ajustadas ao perfil de desempenho de cada um.
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