sexta-feira, 5 de março de 2010

"Bateram-te? Vou à escola"

Especialistas garantem que um diálogo aberto com os pais dá confiança às crianças para denunciar casos.

O diálogo com os pais é fundamental para que as crianças vítimas de bullying possam ultrapassar a situação. "É difícil fazer receitas", reconhece o pediatra Gomes Pedro, que já foi médico em escolas. No entanto, o clínico garante que é preciso a criança "sentir-se acompanhada". "Os pais podem dizer: 'O teu colega bateu-te, é preciso ir contigo à escola para falar com ele?", exemplifica.

É também importante que os pais digam que acreditam nos filhos, para que eles "lhes contem todas as cenas que sintam como violentas", como defende o pediatra Mário Cordeiro. "Mas os próprios pais não podem ficar calados e devem pedir explicações na escola", acrescenta o médico, recordando o caso de Leandro, que continua desaparecido e se terá suicidado por ser vítima de bullying.

Por outro lado, os psicólogos e pediatras sublinham que é preciso distinguir os episódios de violência que fazem parte do desenvolvimento infantil e bullying, que é um tipo de violência mais persistente. Este último é um fenómeno que envolve uma em cada quatro crianças portuguesas. Ou seja, 40 a 42% dos alunos são vítimas ou agressores, de acordo com os últimos estudos nacionais.

A psicóloga Marina Carvalho lembra também que é importante a vítima "comunicar o que está a acontecer a um adulto com responsabilidades na escola". Os pais devem ainda ajudar a desenvolver as capacidades relacionais dos filhos. Uma vez que as vítimas são por norma submissas nas relações com os outros, tímidas e têm dificuldades em afirmar-se. "Se as crianças conseguirem afirmar-se perante os outros e manter boas relações com os colegas, isso diminui a tendência à vitimização", refere Marina Carvalho.

Explicar às crianças que não são as únicas e que as outras vítimas conseguiram ultrapassar o problema ajuda a minimizar os efeitos destas agressões e humilhações continuadas, sublinha Marina Carvalho. Outra forma de fazer com que as crianças ultrapassem as situações de bullying é ter vários grupos de amigos. "É importante as crianças terem os amigos do bairro, do desporto ou de outras actividades, para não terem apenas o grupo da escola que as humilham", considera a psicóloga Ana Beatriz Saraiva.

Nos casos de bullying, as regras de segurança que os pais ensinam aos filhos também são válidas. "As vítimas devem evitar locais isolados, ruas escuras ou andar sozinhas", esclarece Ana Beatriz Saraiva, especialista em violência escolar.

Na prevenção destes casos, Mário Cordeiro propõe que se desenvolva "um programa organizado, nas escolas primárias e outras, sobre a não violência e estratégias de dirimir pacificamente os conflitos". Considerando fundamental "dar às vítimas espaço 'institucional' para se queixarem, sabendo os agressores que a escola 'está de olho neles', sejam quem forem", aponta o pediatra.


3 comentários:

  1. Ah pois... infelizmente ainda há muitos pais que encaram a escola (e os colégios) como um depósito de crianças e que o que lá se passar é da responsabilidade de quem lá está... ora óbio que não é assim!

    Acho que a culpa é da falta de diálogo (se é que se pode culpar alguém) entre pais e filhos... e escola!!!

    E ser razoável na resolução de conflitos, não dispensa o dar conhecimento a todas as partes envolvidas, para se poder evitar situações semelhantes posteriormente...

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  2. Concordo Paula! Excelente interpretação deste post e da realidade que se vive.
    A falta de diálogo entre pais e filhos, mas também entre família e escola é por demais evidente. Talvez a "culpa" do actual estado da nossa sociedade.
    Solução?!? Não tenho, não há "remédios", mas aconselharia um pouco mais de bom-senso por parte de professores para sermos nós a procurar trazer as famílias à escola, de modo a promovermos o diálogo, a partilha.

    Cumpts

    Nelson

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  3. Sem muito a acrescentar, só posso dizer que para além de pertinente o artigo, concordo em absoluto contigo, Nelson, no bom senso dos professores!!!

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