sexta-feira, 5 de março de 2010

Turmas barulhentas

Hoje trago até vós um artigo de uma psicóloga que me tem "cativado" pelos excelentes artigos que escreve, sempre com opiniões bastante fundamentadas. Indica, nesses artigos, sugestões, que na minha opinião, são de uma grande utilidade.

A temática que aborda neste artigo é de uma pertinência enorme e para a qual importa parar, reflectir e actuar o mais precocemente possível.

"Enquanto este problema não for encarado como verdadeiro problema e os pais não tomarem medidas mais punitivas, ele manter-se-á.

O fenómeno "turma barulhenta" tem vindo a generalizar-se. Habitualmente, os professores referem-se a estas turmas como sendo constituídas por alunos que não são propriamente mal-educados, mas são muito faladores. Às vezes, até há um número considerável de alunos com bom aproveitamento nestes grupos. No entanto, a conversa para o lado é uma constante. Numa reunião de pais em que recentemente estive presente, um deles referia que a maioria dos professores da turma do filho passava boa parte da aula a tentar manter o silêncio e que, no início das aulas, eram necessários quinze minutos para que todos os alunos se calassem e a abordagem das temáticas académicas pudesse iniciar-se. Compreendo bem a preocupação deste pai, pois este é efectivamente um fenómeno altamente perturbador da aprendizagem.

A grande questão que se coloca é como agir face a este fenómeno, que aparentemente é fácil de resolver mas, em termos práticos, pode, por vezes, arrastar-se um ano inteiro sem que seja solucionado. A aliança entre pais e professores no sentido de combater este fenómeno é, por isso, fundamental.

Sei que os professores enfrentam este problema com grande apreensão, uma vez que ele gera frustração, dado que, como os próprios referem, "passo a aula mandar calar".

Também provoca desgaste pessoal, na medida em que o investimento realizado pelo professor no sentido de planear bem a aula vai muitas vezes por água abaixo porque, simplesmente, ninguém ouve o que está a ser dito. Que medidas tomar para tentar minorar o problema?

Frequentemente, há problemas no recreio que são transportados para a sala de aula e que perturbam o seu bom funcionamento. Sempre que o professor perceba que há guerras latentes por resolver é preferível, no início da aula, tentar que estas se resolvam rapidamente.

A forma como os alunos entram na sala de aula é também de grande importância e deve ser controlada. Se estes entram em repelão, atropelando-se uns aos outros, isso não favorecerá o bom início das actividades lectivas.

Os professores deverão também incentivar os alunos a tirar o material rapidamente da mochila, de forma a iniciarem os trabalhos imediatamente após se sentarem. Se este momento inicial se prolongar muito, estar-se-á a dar azo a que muitas conversas, que nada têm a ver com a aula, se instalem. Sempre que haja mudança de actividade é também fundamental que esta se faça rapidamente, para evitar assuntos paralelos.

A forma como os alunos estão dispostos na sala de aula é outro aspecto de grande importância, que nunca poderá ser desvalorizado. Se dois alunos estão sempre a pôr a conversa em dia, isso significa que têm automaticamente de ser separados.

Se nas reuniões em que contactou o professor ou o director de turma do seu filho, já houve queixas de que o seu educando é muito falador na sala de aula, que medidas tomou? Habitualmente, o discurso dos pais é de desvalorização face a esta questão, limitando-se a ralhar com os filhos. Se na reunião seguinte a queixa se mantiver, a medida tomada pelos pais é geralmente a mesma: uma breve chamada de atenção... e o problema mantém-se. Enquanto este problema não for encarado como verdadeiro problema e os pais não tomarem medidas mais punitivas, ele manter-se-á. Poder-me-ão questionar, os pais, mas como quer que eu controle o meu filho, se não estou na escola? É verdade, mas em casa há imensas fontes de reforço, que poderão ser retiradas à criança e que poderão ajudá-la a repensar a atitude mais correcta a tomar na sala de aula. Se os filhos perceberem que este comportamento também não é tolerado pela família, mais facilmente poderão mudar de atitude.

Saindo um pouco do contexto académico, parece-me que este fenómeno não é totalmente alheio ao facto de, em termos sociais, estarmos em permanente agitação, atropelando constantemente o discurso uns dos outros..."

Por: Adriana Campos

4 comentários:

  1. Exceptuando as situações particulares de outras problemáticas envolvidas no mau comportamento dos jovens e adolescentes dos nossos dias, afirmo que o que mais lhes falta é uma bom bocado de disciplina e imposição de regras claras. Por outro lado uma responsabilização para determinados deveres que lhes deveriam ir sendo incutidos conforme vão crescendo, também não lhes faria nenhum mal. Eu sinceramente pasmo, em como as coisas mudaram, a forma dos pais educarem actualmente é um pouco estranha para mim - Basicamente eles pedem tudo, ao que a maioria dos pais cede, mesmo com grandes sacrificios, e depois dão muito pouco em troca. Só têm direitos, qause não têm deveres. Estamos a criar, nem sei muito bem o quê. E esdtamos também a defraudar os nossos filhos, porque na vida em adultos nada se consegue sem sacrificios, e os pais não podem sempre!
    Paralelamente, passou-se de um excesso de autoridade dos professores, que originava claros abusos, para uma impossibilidade de actuação mais disciplinadora, se for necessário.
    Parece-me tudo um pouco desiquilibrado o que torna todos estes resultados realidades, e não augura nada de muito bom no futuro para nenhuma das partes.
    Entretanto valem-nos as excepções que também se vão vendo por aí...

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  2. Realmente passámos de 8 para o 80...O que desiquilibrou completamente o ensino e a sociedade em que vivemos...Pais e Famílias têm culpas por igual...Importa agora viver o Presente e Preparar o Futuro intervindo de forma adequada junto das crianças.
    Com muito sacrifício e dedicação é possível "corrigir" esses erros...A Cristina é um exemplo perfeito que isso é possível, o seu filho é a prova viva.

    Cumpts

    Nelson

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  3. Muito obrigado Nelson, acredite que nos esforçamos -e eu e o meu marido - para que além das aprendizagens do curriculum que gostaráimos muito que ele fosse conquistando, a parte da educação é algo no qual também nos esforçamos. Claro que o mimamos tambémn e tentamos dar-lhe tudo o que nos pareça que pode ser motivo para sua alegria, mas palavras como obrigada, perdão, se faz favor, etç.; ensinar-lhe a pôr a mesa, e a arrumar as suas coisas, são pequenos valores que tentamos transmitir-lhe e que não são nada fáceis (neste caso)... ainda assim, e por muito que tenhamos de repetir para ele aprender, fazemos questão porque envergonhar-me-ia que o meu filho para além de ser autista, também fosse mal educado. Felizmente não é, mas isso é algo com que nós cá por casa nos preocupamos e lutamos (àrduamente) para que nunca o seja, pelo menos naquilo que são as suas capacidades.
    Por isso, tenho pouca margem para compreender que na facilidade de quem não tem um filho com as dificuldades que por vezes o meu apresenta, não consiga, para seu bem e de toda uma sociedade, disciplina-lo e educa-lo no respeito pelos outros e pela vida... Mas enfim são realmente mundos diferentes cada familia vive de acordo com as suas ideias e os seus valores, às vezes é dificil ver mais além, por tudo o que está para trás.
    Felizmente, e podendo eu não ser um exemplo - os meus pais educaram-me no respeito e nos deveres... em contrapartida também me iam compensando se tal fosse possivel.
    Abraço (que grande testamento, desculpe!!!)
    Cristina

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  4. Não tem nada que pedir desculpa Cristina!
    É um prazer ler as suas palavras. Longe de mim, quando criei este espaço, pensar poder ter a honra de aprender tanto.
    Ler as suas palavras e as de outras pessoas faz-me crescer...ser melhor...é a melhor escola que poderia ter. Por isso tenho que lhe agradecer a si, e a todas as pessoas que dão um testemunho neste espaço que é de todos.

    Quanto ao post:)...felizmente também fui educado segundo princípios/valores de respeito pelos outros (aqui tenho de agradecer aos meus pais e a toda a minha família pela pessoa que hoje sou). Compreendo que as famílias vivam num ritmo alucinante, onde a pressão é enorme, mas...nada poderá servir de desculpa para não se educar...para não ensinar a respeitar.
    É fácil pensar em colocar uma televisão em cada compartimento da casa, assim a criança está "ocupada"...mas mais importante que tudo isto é falar, nem que sejam 5 minutos e se pergunte: Como foi o teu dia?...É importante dizer que não...a criança que não ouve um não vai ser egoísta, egocêntrica e sem respeito pelo outro...
    Talvez seja sonhador...mas acredito que a escola voltará a ser "Importante" para a família...porque o diálogo voltará a "reinar" para olhar para o mais importante do MUNDO: A CRIANÇA...

    Cumps

    Nelson

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