Quase todos os dias se sentem nervosos, irritados, deprimidos e cansados. Têm medo, dificuldade em adormecer, dores de cabeça e de costas. Não gostam da escola. Estes são alguns dos sintomas físicos e psicológicos partilhados por adolescente envolvidos em bullying, de acordo um estudo da investigadora da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa, Margarida Gaspar de Matos, que vai ser apresentado esta noite em Gaia, no âmbito de uma série de colóquios promovidos pela Associação Nacional de Professores.
As vítimas, por regra, têm dificuldade em fazer amigos, sentem-se sozinhas e infelizes. Já os agressores, que muitas vezes consomem álcool e fumam, mostram ter fraca supervisão dos pais, que mal sabem onde estão os filhos depois das aulas, o que fazem nos tempos livres, como gastam o dinheiro e onde saem à noite.
No estudo, Prevenção da violência interpessoal em meio escolar, constatou-se que a violência que existe está associada ao consumo de substâncias, falta de gosto pela escola, faltas às aulas, má relação com os professores, distância na comunicação com os pais e mau ambiente na zona onde vivem.
De acordo com a investigadora, que é também co-autora dos livros Violência, Bullying e Delinquência e Jovens com saúde - Diálogo com uma geração, escrito com Daniel Sampaio, a maior parte dos agressores e das vítimas são rapazes e, embora seja um dado que deva ser encarado com "cuidado", será o Alentejo a zona com mais escolas com casos de violência.
A docente, psicóloga e investigadora salienta, porém, que a maior parte dos alunos não se envolve em situações de violência e que esta, mesmo na sociedade em geral, não está a aumentar - o que há é "mais visibilidade, porque já não é tolerada socialmente".
Como o PÚBLICO noticiou esta semana, os inquéritos internacionais, com base em questionários, dão conta que, entre 2002 e 2008, houve um decréscimo tanto dos alunos que dizem ser vítimas de bullying como dos que se assumem como agressores. Estudos referem que um quarto dos estudantes do ensino público em Portugal já esteve envolvido em situações de bullying mas não apontam para um aumento nos últimos anos.
Menos alunos violentos
Para prevenir a violência, a escola deve adoptar medidas "técnico-científicas" e "não apenas políticas": "As escolas que têm problemas devem usar o estatuto de autonomia para provocar um debate que inclua professores, alunos, pais, auxiliares, outros profissionais da área e, a partir daí, deve chegar-se a um regulamento simples e partilhado", defende Margarida Gaspar de Matos. Deve também "haver um reforço de auxiliares para os recreios" e "incentivos" que fomentem o "sucesso escolar e de vida". "Apenas vigilância e punições são estratégias ineficazes" que "podem mesmo tornar-se perversas e aumentar a violência", diz.
De acordo com a investigação, que vai ser publicada no próximo mês na revista Child and Adolescent Psychology, o número de alunos que não se envolvem em situações de violência "aumentou significativamente", entre 2002 e 2006, nas escolas públicas em Portugal, relativamente ao período compreendido entre 1998 e 2002. São as raparigas e os alunos mais velhos os que menos se envolvem.
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