quinta-feira, 18 de março de 2010

Escola preocupada com excesso de mediatismo de vítima de bullying

Rapariga de 14 anos foi sinalizada à Comissão de Protecção de Crianças depois de se desdobrar em entrevistas. Advogado da família estranha a iniciativa.

Beatriz C. tem 14 anos, frequenta o nono ano, na Escola Secundária Jorge Peixinho, no Montijo, e tem sido vítima de bullying. Denunciou o seu caso nos media, em diversas entrevistas. Numa delas, admitiu que a perseguição de que se diz alvo, dentro e fora da escola, veio desestabilizar o seu ambiente familiar. Acto contínuo, a escola requereu a intervenção da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens. O representante da família questiona esta iniciativa, considerando que a escola está a agir contra a aluna, em vez de a ajudar.

Paulo Edson Cunha questiona o facto de a escola só agora intervir, já que os pais pediram ajuda logo que começaram as agressões. O advogado estranha ainda o facto de "quando a escola age, age contra a Beatriz colocando-a no centro de um processo que não faz qualquer sentido".

O caso remonta a Outubro de 2009, quando surgiram as primeiras acusações de agressão. Nessa altura, Beatriz terá agredido uma colega, em resposta a provocações, e foi depois agredida por um grupo de alunas. O inquérito da escola levou à punição de uma aluna e da própria Beatriz com seis dias de suspensão, tendo a pena sido suspensa.

Dois meses depois, em Dezembro, a jovem voltou a ser agredida, mas desta vez fora da escola. Foi assistida no hospital e os pais apresentaram queixa ao Ministério Público. O caso passou entretanto para o Tribunal de Menores do Barreiro. A escola abriu um processo de acompanhamento da aluna. O director de turma, os professores, auxiliares de acção educativa e seguranças da escola foram instados a um acompanhamento mais atento. Os relatórios dizem que não se registaram alterações de comportamento por parte da aluna.

Culpar quem sofre

No final de Fevereiro, Beatriz relatou uma nova agressão e uma nova queixa na PSP do Montijo para uma televisão - o que levou a escola a sinalizar a aluna junto da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens do Montijo, por considerar a "susceptibilidade de haver algum risco para a jovem".

Em causa, segundo o relatório apresentado pela escola, estão três pontos: o excesso de mediatismo do processo, dado que a jovem tem-se desdobrado em entrevistas a alguns canais televisivos; o facto de ter sido alvo de três processos disciplinares durante o actual ano lectivo; e as palavras da jovem numa entrevista à SIC, na qual diz que a tensão que vive promove algumas discussões em casa.

Este último factor foi, aliás, um dos pontos levantados pelo advogado da família, Paulo Edson Cunha, que considera que as palavras da jovem, transcritas pela escola no processo, "estão descontextualizadas e podem, por isso, ser mal interpretadas". Embora se recuse a dar entrevistas, o director da escola, José Evangelista, garante que "não há qualquer intenção por parte da escola de culpar os pais da aluna". "O que se entende é que todo este processo pode prejudicar a jovem e, por isso, entendemos ser o momento de agir. Se o processo for arquivado, não ficamos preocupados, antes pelo contrário."

Perfil na Internet

O advogado da família desta jovem não tem dúvidas de que a jovem é vítima de bullying e aponta não só as agressões físicas, como o facto de "terem sido criados perfis em redes sociais com o nome, os contactos e a fotografia da Beatriz onde esta se oferecia para a prática de actos sexuais". Para além disso, refere este representante, "há todo um conjunto de mensagens para o telemóvel da jovem com ameaças e ofensas".

Confrontada com estas questões, a escola confirma a sua existência, mas adianta "nada poder fazer, uma vez que estes factos são praticados fora do horário escolar".


3 comentários:

  1. Fico estupefacta... especialmente com o último parágrafo!!!

    E onde andam as mãezinhas e os paizinhos dessa gentinha (ironia à bruta)?!?

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  2. Quando a cerca aperta para a escola, é fácil "virar o bico ao prego"!
    Obviamente que quem está de fora pode dizer o que bem entende, mas na verdade só quem está implicado directamente na situação é que sabe o que realmente se passa.
    Não desresponsabilizando os pais (da rapariga vítima de bullying e dos agressores!) a escola tem um papel fundamenttal na prevenção destas situações. A escola e o Ministério. Há que ter mais firmeza e autoridade.

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  3. Obrigado pelos vossos comentários...
    Não podemos, na minha opinião, (des)responsabilizar Escola e/ou Família...Cada caso é um caso e a diversidade de variáveis que existe em cada um deve ter-se em conta.

    Realço o que penso ser mais importante neste artigo, a falta de diálogo Escola/Família está a prejudicar aquele ou aquela que deve ser o centro das atenções...A criança!!!

    É com esse espírito, com esse ideal que devemos agir/trabalhar...

    Cumprimentos
    Nelson

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