sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Como fazer um bom aluno? (Parte I)


A verdade é que, presentemente, no nosso sistema de ensino se vive uma cultura de facilitismo e, para que um aluno não transite para o ano seguinte, o professor precisa de cumprir um processo burocrático imenso.

Agora que um novo ano lectivo se aproxima e muitas crianças estão em vias de ingressar no 1.º ciclo, várias questões se colocam aos pais, nomeadamente: Será que ele vai aprender facilmente? Será que ele vai ser um bom aluno? 

Poderia começar já com uma grande dissertação sobre o que significa ser bom aluno neste início do século XXI, dado que a resposta é certamente diferente da do passado, uma vez que as exigências da sociedade actual são também bem diferentes das de antigamente. Há, no entanto, algo que não mudou e que se reporta ao 1.º ciclo, sendo por aí que me parece importante começar. 

Para se ser um bom aluno é fundamental, em primeiro lugar, "agarrar" as bases sobre as quais serão construídos novos conhecimentos. Para se ser um bom aluno é importante saber ler fluentemente e interpretar aquilo que se lê, escrever sem erros ortográficos, mediante o conhecimento das regras e das excepções ortográficas. É importante ainda saber as nomenclaturas gramaticais e conseguir aplicar a pontuação, dominar as quatro operações e perceber os números decimais. O que acabei de expor parece uma verdade tão óbvia, que a sua referência até parece ridícula. O problema é que a construção de maus alunos começa habitualmente no 1.º ciclo, dado que muitos não fazem as aquisições básicas de acesso ao saber. São muitos os casos de crianças que chegam ao 2.º ciclo sem saber ler nem escrever correctamente, isto para não falar daqueles que, de todo, não sabem mesmo ler. Para quase todos estes alunos está praticamente ditada a sentença: um percurso escolar marcado por desmotivação, desinteresse e frustração. 

Aos pais que já têm os filhos no 1.º ciclo e que se sentem tranquilos quanto ao seu aproveitamento, dado que os registos de avaliação que receberam no decorrer dos vários períodos são satisfatórios, diria que se mantivessem particularmente atentos. A verdade, que neste caso resulta de constatações que vou fazendo em resultado da minha prática profissional e que até posso exemplificar, é que entre o que consta desses registos e o que o aluno realmente sabe há, por vezes, discrepâncias. Este ano lectivo, quando confrontada com um aluno que estava a frequentar o 5.º ano e que não sabia ler, resolvi analisar o seu processo individual e o que constava nos seus registos de avaliação. Qual não foi o meu espanto, quando verifiquei que o professor do aluno que o acompanhou do 1.º ao 4.º ano, sem nenhuma retenção, afirmava que ao nível da leitura este tinha apresentado sempre um domínio progressivo que se enquadrava no "Satisfaz Pouco". Um aluno que não sabe ler não deveria ter no domínio progressivo da leitura a avaliação de "Não Satisfaz" no final do 4.º ano? Estou a relatar um caso verídico que nada tem a ver com a ficção. Obviamente que não quero com este exemplo criar alarmismos, mas simplesmente dizer aos pais que têm de acompanhar os filhos nos estudos, por muito boa que seja a escola que eles frequentam. Os professores não podem, de forma alguma, fazer tudo! Quando os pais constatam que os filhos estão progressivamente em desvantagem face ao que seria desejável em termos de aprendizagem, devem, imediatamente, com a ajuda do professor e, eventualmente, de outros técnicos, se tal for necessário, procurar estabelecer um plano de acção.

Devo referir que, com o exemplo que citei, não pretendo culpabilizar os professores. A verdade é que, presentemente, no nosso sistema de ensino se vive uma cultura de facilitismo e, para que um aluno não transite para o ano seguinte, o professor precisa de cumprir um processo burocrático imenso. Por outro lado, os apoios aos alunos com mais dificuldades são escassos. Assim, aparecem "Não Satisfaz" mascarados de "Satisfaz Pouco" ou até de "Satisfaz".

Se a distância entre as aquisições académicas que o seu filho deveria ir fazendo e não faz é cada vez maior, não espere que tudo se resolva naturalmente com a passagem do tempo, pois o que geralmente acontece é que, sem medidas concretas, o tempo nada resolve, pelo contrário. Neste artigo analisei o primeiro grande ingrediente para se ser um bom aluno. Como existem outros também importantes, deixo-os pendentes e retomarei esta questão brevemente.

Por: Adriana Campos

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