quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Entrada no primeiro ciclo


Tenho dois filhos a frequentar o 1.º ciclo do Ensino Básico e gostaria de ver abordado o papel da família no apoio às actividades escolares versus promoção da autonomia da criança. Por vezes sinto alguma dificuldade na gestão destes dois aspectos...' 

Catarina Ralha

A entrada dos filhos no 1.º ciclo de escolaridade corresponde a uma mudança significativa na dinâmica interna da família, ainda que a criança tenha frequentado o jardim infantil e que o sistema pré-escolar tenha começado a preparar quer a criança quer os pais para as novas exigências que a frequência escolar necessariamente impõe. 

Algumas das mudanças inevitáveis poderão passar pela alteração de todo um conjunto de horários que norteava a vida familiar (horas de levantar e de deitar, tempos de refeição, de estudo e de lazer) e também pela reorganização do próprio espaço, de forma a encontrar um local de estudo mais adequado. Em certas situações pode mesmo ser necessário fazer uma 'grande ginástica' orçamental e até laboral. Ao nível parental terão de ser tomadas decisões importantes, no que se refere ao apoio a dar à criança e à articulação com a escola.

Para a criança, a entrada no 1.º ciclo é conotada com a possibilidade de vir a usufruir de mais autonomia e de ter um estatuto mais próximo dos adultos. Para a família, este momento constitui um verdadeiro teste de avaliação, na medida em que, quando a criança entra na escola, a capacidade da própria família, no sentido de ter ajudado a criança a desenvolver competências de relacionamento com os outros e de aprendizagem, vai ser necessariamente avaliada.

Para que o encontro entre o sistema familiar e o sistema escolar potencie o desenvolvimento integral da criança, é fundamental o reconhecimento por parte de ambos de que apesar de terem um estatuto, objectivos específicos e papéis diferentes, partilham alguns objectivos e funções idênticas e têm a obrigação de ajudar a criança a desenvolver a sua tripla dimensão biopsicossocial. O apoio na realização dos trabalhos de casa poderá servir para exemplificar melhor aquilo que aqui está a ser referido. Os pais podem apoiar os filhos na realização dos trabalhos de casa, aproveitando estes momentos para lhes mostrarem como valorizam as tarefas de aprendizagem escolar. Esta ajuda deverá ter como princípio orientador, o feedback do próprio professor, que poderá ser dado aos pais, se estes o solicitarem. Esta boa comunicação entre pais e professores poderá contribuir decisivamente para o sucesso educativo, na medida em que os pais poderão ajudar os filhos a terem uma maior motivação e favorecerem o desenvolvimento de uma concepção mais positiva das aprendizagens escolares.

Paralelamente a este apoio, na realização das actividades escolares, os pais terão de continuar a ser 'portos seguros', onde os filhos poderão encontrar sempre refúgio e apoio, embora inevitavelmente lhes tenham de dar cada vez mais autonomia, através da gestão flexível de um cada vez mais complexo conjunto de regras e normas de actuação. 

A melhor forma para atingir algum equilíbrio na gestão de todas estas dimensões é quase impossível de determinar, pois depende de uma grande variedade de factores, tais como personalidade dos pais e dos filhos, tipo de relação estabelecida entre ambos, relação estabelecida com outros contextos, etc. Embora, mais uma vez, não existam receitas, é importante sublinhar que esta pode ser encarada como mais uma transição que o sistema familiar tem de enfrentar, com toda a angústia e ansiedade que qualquer mudança necessariamente implica.

Bibliografia: 
Madalena Alarcão. (Des) Equilíbrios familiares. Editora Quarteto.

Por: Adriana Campos

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