Cerca de 80 mil esquizofrénicos vão pagar 15 euros pelos remédios. Psiquiatras temem abandono da terapia.
Os doentes que sofrem de esquizofrenia e de outras doenças psicóticas vão passar a pagar 5% dos medicamentos, que até aqui eram totalmente gratuitos. Uma mudança que, alertam os psiquiatras, vai levar alguns dos 80 mil doentes a abandonar os tratamentos. Os remédios para um doente com esquizofrenia custam em média 300 euros por mês e agora os doentes vão passar a pagar 15 euros.
"Cinco por cento parece pouco, mas tenho doentes que me ligam a desmarcar a consulta porque não têm dinheiro para o transporte, logo parece-me difícil que tenham dinheiro para os medicamentos", aponta Pedro Afonso, psiquiatra do Hospital Júlio de Matos, em Lisboa.
Também o presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental receia que as pessoas com doenças psicóticas venham a desistir dos tratamentos por causa do fim das comparticipações a 100%, anunciadas para todos os medicamentos a partir de sexta-feira. António Palha lembra que "estes doentes tomam uma medicação para a vida. Deixar de fazer o tratamento implica uma recaída e consequentemente o internamento para esse doente. O que acaba por sair mais caro do que comparticipar os medicamentos".
Desde 2004 que os medicamentos antipsicóticos eram totalmente financiados pelo Estado. E logo aí os médicos notaram um aumento de doentes que passaram a seguir os tratamentos.
"Houve um salto qualitativo quando os medicamentos passaram a ser comparticipados", admite António Palha. Agora o receio é que os doentes voltem a deixar de seguir o tratamento.
A comparticipação total dos remédios trouxe outras melhorias à vida dos doentes, garantem os psiquiatras. Passaram a ser prescritos os medicamentos mais recentes, que apesar de serem mais caros "têm menos efeitos secundários e melhores resultados", explica António Palha. Os novos remédios permitiram ainda aos doentes com esquizofrenia "acabar um curso superior ou trabalhar", defende Pedro Afonso.
Por isso, o médico do hospital psiquiátrico Júlio de Matos considera que esta medida vai levantar "questões éticas muito difíceis". Pedro Afonso refere que para evitar que os doentes gastem mais dinheiro com os medicamentos mais recentes, os médicos podem ter de receitar os mais antigos, mais baratos mas também menos eficazes.
Os médicos lembram que as dificuldades dos doentes em comprar estes medicamentos deve-se ao facto de a maioria não trabalhar e viver apenas com pensões baixas ou com a ajuda de familiares.
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