terça-feira, 21 de setembro de 2010

De educadores para educadores


A escola está em revolução! Os pequenos projectos que aqui e ali foram surgindo tiveram um efeito multiplicador. Gradualmente uma turma contagiou a outra e toda a comunidade educativa ganhou o hábito de questionar a realidade envolvente, reflectir criticamente sobre os problemas locais e globais, criar formas de intervenção (pessoal e colectiva) que contribuíssem para o bem comum. As crianças e jovens contagiaram a comunidade local, habituados que estavam a tomar decisões responsáveis e a assumir um papel comprometido com os valores da solidariedade e da justiça social na turma, na escola, no bairro... 

O cenário antes descrito seria o desejável, mas infelizmente nas nossas escolas o tom usado não é o rosa. Bem pelo contrário, às vezes, o vermelho é tão intenso... Afinal, as nossas escolas fazem parte da sociedade em que vivemos, têm os mesmos problemas e virtudes.

Estão inseridas numa cultura de facilitismos que se reflecte no dia-a-dia. Alguns dos nossos alunos e alunas quando se deparam com alguma dificuldade tentam desistir da aprendizagem... 

Mas aprender não é tarefa fácil! Aprender não tem de ser fácil. Faz dor de cabeça. É demorado. Mas repleto de aventuras. Estão inseridas em sociedades que vivem alicerçadas num pensamento tecnicista. A escola vai "domesticando" cada criança e jovem tendo em conta as necessidades políticas, económicas e sociais. Um saber "empacotado" de respostas em "bandejas". Mas... aprender não é assim!

Aprender é despertar uma reflexão crítica baseada, simultaneamente, em factos concretos do mundo actual e nas suas próprias vivências. É partir daqui para projectarmos os nossos alunos e alunas mais além: analisar e questionar situações locais e globais, evidenciar as interligações e a interdependência presente entre todas as pessoas, regiões e países, descobrir as nossas próprias verdades. Um constante movimento de construção, desconstrução e reconstrução.

Estão inseridas numa cultura em que os outros - seja o Estado, sejam os nossos superiores hierárquicos, sejam os nossos familiares e amigos... - têm responsabilidades das quais, por este ou aquele motivo, fugimos através da arte da desculpa e da sua fundamentação. Mas, neste planeta, nada do que deixamos de fazer ou do que fazemos é alheio ao destino das restantes pessoas. E para nós, enquanto educadores e educadoras, isso é muito mais verdade! Não somos seres neutros, somos seres éticos e políticos: fazemos opções e tomamos decisões comprometidas com os nossos valores, ideias e ideais e que influenciam as crianças e jovens com quem trabalhamos, os nossos colegas, as nossas direcções...

Por exemplo, a quem cabe a tarefa de seleccionar as estratégias que melhor se adequam às características dos nossos alunos e alunas e que melhor servem os objectivos a que nos propomos?! E esta opção tem um papel importantíssimo na construção de aprendizagens significativas...

Se optarmos por um ensino pela descoberta podemos dar oportunidade aos alunos e alunas de realizarem experiências e trabalhos de pesquisa de forma autónoma. Sob a nossa coordenação, podem explorar as suas próprias questões, promover o seu espírito de observação, de iniciativa, de capacidade crítica, de curiosidade científica e de partilha e colaboração. 

Se quisermos abrir a escola à comunidade e ao mundo, a aprendizagem resulta em infinitas aventuras pedagógicas. Optamos por uma forma de combater a insularização dos saberes, mostrando que o currículo não é apenas o plano ou "currículo prescrito" mas também o "currículo vivido". Por uma forma de povoar o descampado dos saberes importantes com novos sentidos. É possível experimentar aí os sentimentos de sucesso e de fracasso, as sensações de insegurança e incompletude, tal como na vida - uma verdadeira "pedagogia da incerteza", colectivamente assumida e saboreada. Em ambos os casos temos uma convicção: acreditamos que cada um pode ser o construtor do seu saber, do seu processo de aprendizagem. Deixamos de querer "presentear" os alunos e alunas com súmulas mais ou menos complexas e iguais todos os anos, deixamos de nos revelar avessos às mudanças para passar a acompanhar, a desafiar, a apoiar e avaliar todo o processo educativo.

E, claro, que um trabalho finalizado acarreta, inevitavelmente, milhares de outros por começar. Ao reflectirmos sobre um processo remexemos em memórias acabadas de chegar, esgravatamos no terreiro das concretizações, levantamos insatisfações - ideias por realizar ou, definitivamente, abandonadas - ... tudo já em estado de nova construção. E com toda esta mexida sente-se uma agradável aragem que acorda e recarrega as nossas mais fortes determinações. A nossa criatividade. A nossa energia.

Bem, com tudo isto e com todo o percurso efectuado por nós (incluindo o desalento que sentimos em determinadas fases) queremos dizer-vos que fica a necessidade de agir, de construir um mundo em que deixamos de ser espectadores e passamos a ser actores, reformulando, tantas vezes quantas necessárias, o nosso caminho enquanto educadores e educadoras.

Porque, afinal, é impossível não estar co(i)mplicado nos acontecimentos do nosso mundo. Porque, afinal, hoje os nossos desafios são mais complexos, mais ambiciosos, mas educar continua a ser uma tarefa muito enriquecedora e gratificante. Porque, afinal, para nós as situações imprevistas que se nos deparam são desafios e não condenações.

Porque, afinal, temos de lutar pelo nosso valor social, pela nossa importância. Porque, afinal, somos os que ainda podem fazer sonhar. Porque as nossas escolas podem não ser fáceis ou as melhores no ranking escolar, mas certamente são lugares especiais porque nelas estamos nós!

Nota: O presente artigo foi escrito a várias mãos pois integra citações de textos elaborados pela educadoras e educador acima citados.


Por: Oficina de Formação "Educação para a Cidadania Global na Escola”

4 comentários:

  1. Muito pertinente e interesante. A importância do envolvimento da comunidade educativa. Só um reparo: neste post não constam os nomes dos envolvidos.

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  2. Obrigado...

    O post tem o nome dos envolvidos, pelo menos de onde foi retirado era a informação disponível...penso que por ser em grupo optaram por este nome:

    Oficina de Formação "Educação para a Cidadania Global na Escola”

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  3. Nomes dos intervenientes:
    Ana Lagoa, Fátima Capelo, Fátima Roldão, Graça Delgadinho, Graça Dias, Luísa Costa, Maria Reina Pimpão, Patrícia Santos (org.), Ricardo Cipriano, Rosa Fernandes: Professores/as participantes na Oficina de Formação "Educação para a Cidadania Global na Escola", dinamizada pelo CIDAC - Centro de Informação e Documentação Amílcar Cabral, em parceria com o Centro de Formação Professor Orlando Ribeiro - Associação de Professores de Geografia.
    In: http://www.educare.pt/educare/Educare.aspx

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  4. obrigado chefinha:)

    Não tinha lido a caixa de cima...Peço desculpas...

    bjs

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